segunda-feira, 29 de junho de 2015

O que torna uma cidade sustentável?

A cidade de Essen, no oeste da Alemanha, foi escolhida a "capital verde" da Europa para o ano de 2017 – um prêmio dado anualmente pela Comissão Europeia para exemplos de ações ambientalmente importantes, incluindo esforços locais para melhorar o meio ambiente no perímetro urbano e promover o crescimento sustentável.

Desde 2010, o título é concedido a cidades europeias com população superior a 100 mil habitantes. A premiação é dada sempre dois anos antes do período proposto. Para 2016, a vencedora foi Liubliana, na Eslovênia. A inglesa Bristol ganhou o título para 2015, e a capital dinamarquesa Copenhague, no ano passado.

Antigo centro de mineração de carvão, no coração do Vale do Ruhr, Essen foi reconhecida por superar o desafio da sua história industrial e reinventar-se de maneira ambientalmente sustentável. Depois, tornou-se exemplo para outras cidades.

Mas o que, afinal, faz uma cidade ser considerada "verde"?

Para o concurso, um grupo independente de especialistas analisou as cidades com base em fatores como qualidade do ar, transporte, áreas verdes urbanas e medidas para lidar com as mudanças climáticas.
George Ferguson, prefeito de Bristol, na Inglaterra, descreve as mudanças climáticas como "o maior desafio" que as cidades europeias precisam encarar. Segundo ele, enfrentar isso depende de inovação – e muitas vezes com bom humor. Exemplo disso é o que ficou popularmente conhecido como "poo bus", ônibus movido a fezes.

"É o ônibus número dois, e funciona por meio de dejetos humanos. Mas não cheira mal", brinca Ferguson.
O "poo bus" faz parte da campanha de Bristol para reduzir a emissão de carbono em 40% até 2020. Outras medidas rumo a esse objetivo são apoiadas por projetos que incentivam o aumento da energia renovável e a redução no consumo de energia.

Antecessora de Bristol como "capital verde" da Europa, Copenhague tem ambições ainda maiores quando o assunto é mudança climática. A mais ousada é extinguir a emissão de carbono até 2025. Na última década, a cidade já conseguiu reduzir o índice em 40%.

Há ainda mais esforços dos dinamarqueses para aumentar as estruturas construídas com energia renovável e fomentar o uso adequado das bicicletas, com programas como o "bike-butler" ("mordomo de bicicleta").
Quando as pessoas estacionam as bicicletas em locais inconvenientes, os "mordomos" as removem. Mas quando os ciclistas chegam para pegá-las de volta, eles não são punidos com multa, mas sim cumprimentados de forma amigável. Pode soar quase inacreditável, mas, além disso, a bicicleta ainda recebe um banho de óleo nas correias e tem os pneus cheios.

"Criando soluções aprazíveis e elegantes para quem pedala, tornamos a atividade ainda mais atrativa", diz Lykke Leonardsen, chefe da agência municipal que tenta "livrar" Copenhague do carbono.
Aparentemente, funciona. Hoje, em Copenhague, 45% de todos os deslocamentos para o trabalho e para a escola são feitos de bicicleta.

Além de reduzir a emissão de carbono, uma "cidade verde" deve ser também literalmente verde. Isso, porém, não significa apenas ter parques. A expressão da moda em termos de planejamento urbano é "infraestrutura verde", definida como áreas naturais projetadas para desempenhar uma série de funções.
Ronan Uhel, da agência europeia de meio ambiente, conceitua a infraestrutura verde como "uma solução de base natural" que também pode contribuir para a preservação da biodiversidade.

"Pode estar relacionado à eficiência energética de prédios, pode suavizar as divisões das nossas paisagens, pode ser útil para regenerar a acessibilidade aos rios", diz Uhel.

Um grande projeto em Copenhague envolveu a criação de uma rede de áreas verdes que pode absorver a água das chuvas – resultado de um replanejamento devido a uma tempestade, em 2011, que causou grandes danos à infraestrutura da cidade e ameaçou risco de vida a várias pessoas.

Agora, essas áreas desviam a água da chuva, ajudam a limpar o ar e atuam como espaços conjuntos para a comunidade.

"Isso está esverdeando a cidade, deixando-a mais saudável e atrativa", afirma Leonardsen.
Martin Powell, chefe de desenvolvimento urbano da empresa alemã Siemens no Reino Unido, salienta o quão isso é importante:

"Uma cidade verde é absolutamente essencial para atrair o capital humano que você quer ver trabalhando e vivendo no local", diz.

Powell afirma que os municípios e a iniciativa privada podem "pegar carona" e colocar a infraestrutura verde para investimentos. Ele sugere que, quando grandes edifícios passam por uma renovação energética, podem incluir algumas características.

"Por que não integrar com um telhado verde um lugar permeável, no lado de fora, para ajudar no escoamento da água vinda da superfície, uma drenagem sustentável e outras infraestruturas verdes?", sugere Powell.

Ferguson, prefeito de Bristol, finaliza dizendo que as cidades são, ao mesmo tempo, fontes de muitos problemas, mas também de muitas soluções.

"Se as cidades podem se tornar um laboratório de mudanças, os benefícios podem ser espalhados por toda a Europa. Uma cidade, sozinha, não vai mudar o mundo. Mas se compartilharmos ideias, e também os problemas, vamos compartilhar as respostas, e aí poderemos mudar o mundo", conclui.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Pesquisa do IBGE revela que brasileiros reciclam quase 100% das latinhas

O Brasil segue firme na liderança mundial em reciclagem de latas de alumínio, posto do qual é rei desde 2001. O reaproveitamento no país chega a 97,9%, segundo o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentável Brasil, divulgado pelo IBGE na sexta-feira passada. Mais do que conscientização ambiental, a reciclagem está ligada ao valor do material. Quem recicla, garante: latinha de alumínio é ouro!

Na Cooperativa de Educação Ambiental e Reciclagem Sepé Tiaraju, na Zona Norte da Capital, a importância de revender as latas é tanta, que o dinheiro arrecadado com elas serve para pagar o INSS mensal de 25 cooperativados. O preço médio é R$ 3, o quilo. No verão, quando o consumo é maior, a cooperativa consegue arrecadar cerca de 800kg por mês. No inverno, não passam de 600kg.

— De latinha a panelas, o alumínio sempre foi o material mais disputado. É o nosso ouro! — confirma a coordenadora da cooperativa Núbia Luísa Vargas dos Santos, 27 anos.

Filha de recicladores, Núbia estudou só até a quarta série e sempre trabalhou na mesma área dos pais. Ela afirma tirar da reciclagem o sustento para os dois filhos – de dois e oito anos. Por mês, Núbia recebe R$ 1,2 mil.

— Não me considero lixeira, sou recicladora. Tenho orgulho do meu trabalho porque estou ajudando a melhorar o meu planeta. Se mais as pessoas tivessem consciência da importância de selecionar o material, teríamos menos problemas no meio ambiente — acredita Núbia.

Ciclo rápido

Segundo a Associação Brasileira do Alumínio, os 97,9% correspondem a 267,1 mil toneladas de sucata de latas recicladas, o mesmo que 19,8 bilhões de unidades, ou 54,1 milhões por dia ou 2,3 milhões por hora.

Hoje, o ciclo da lata de bebida se completa em 30 dias: ela é comprada, utilizada, coletada, reciclada, envasada (cheia de líquido) e volta às prateleiras para o consumo.
Na prensa, Flaubiano Rodrigues da Cruz, 27 anos, um dos cinco familiares de Núbia que vive da reciclagem, vê as latas completarem o ciclo antes de voltarem ao comércio. Desde guri, ele vive do recolhimento do que é descartado pela maioria.

— Consigo tirar o salário suficiente para sustentar meus três filhos e ainda ajudo o meio ambiente — diz, faceiro.

Tesouro no lixo
 
* Em 2012, o país reciclou 508 mil toneladas de alumínio. Desse total, 267,1 mil toneladas referem-se à sucata de latas de alumínio para bebidas, o que corresponde a 97,9% do total de embalagens consumidas.
* O Brasil é o oitavo maior produtor de alumínio primário, precedido pela China, Rússia, Canadá, Estados Unidos, Emirados Árabes, Austrália e Índia.
* O alumínio pode ser reciclado infinitas vezes, sem perder as suas características no processo de reaproveitamento, ao contrário de outros materiais.
* O alumínio pode ser reciclado tanto a partir de sucatas geradas por produtos de vida útil esgotada, quanto por sobras do processo produtivo.
* Utensílios domésticos, latas de bebidas, esquadrias de janelas, componentes automotivos, entre outros, podem ser fundidos e empregados novamente na fabricação de novos produtos.
* Um quilo é formado por 75 latinhas de alumínio.
* O preço médio do quilo é de R$ 3.

Na Capital

* Em 25 anos de coleta seletiva em Porto Alegre, o DMLU recolheu 15,6 mil toneladas de metais – incluindo latinhas de alumínio.
* Os caminhões do DMLU coletam os resíduos recicláveis em 100% dos bairros e os encaminham para as 19 unidades de triagem (UT) conveniadas. Nesses locais, os trabalhadores fazem a separação (plásticos, papel, embalagens longa vida, vidro, isopor, garrafas plásticas), prensam, agrupam em fardos e negociam autonomamente a venda desses materiais para a indústria de reciclagem e/ou reaproveitamento.
* 15,6 mil toneladas de metais  em Porto Alegre foram recolhidas em 25 anos de coleta seletiva em Porto Alegre.
* Segundo o programa de inclusão na reciclagem Somos Todos Porto Alegre, ao menos 4 mil pessoas na Capital vivem da reciclagem.

Fonte: Associação Brasileira do Alumínio, Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade e DMLU
*Diário Gaúcho

Disponível em: Zero Hora