Com
isso, segundo eles, dificilmente o Brasil repetirá o papel que
desempenhou na Eco-92, conferência ocorrida no Rio de Janeiro há vinte
anos que é tida como um marco para o movimento ambientalista e para
países subdesenvolvidos
Para
Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Brasil Pnuma, ONG que
divulga o Programa da ONU para o Meio Ambiente, o Brasil tem se
esforçado para que a Rio+20 repita os resultados "fantásticos" que ele
atribui à Eco-92.
O
esforço, diz ele, inclui insistir na vinda do maior número possível de
líderes. "Sabemos que alguns não virão, como o dos EUA (Barack Obama),
mas pelo visto teremos um número significativo de chefes de Estado."
Ainda
assim, Lemos afirma que a crise econômica internacional deve dificultar
as negociações, e que a Rio+20 ocorrerá em momento mais desfavorável
que a Eco-92.
"Sempre
que condições econômicas apertam, governos cortam em áreas consideradas
menos importantes. Não há muita esperança de que de se consiga incluir
metas de desenvolvimento sustentável na Rio+20."
Por
outro lado, Lemos diz que a sociedade civil estará mais mobilizada
neste encontro do que no de 1992, o que, segundo ele, pressionará
governantes a dar mais atenção às causas ambientais.
Já
o físico Ennio Candotti, vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência), diz que a Eco-92 foi realizada em um
momento tão complicado como o atual.
Ele
lembra a resistência dos Estados Unidos (que também enfrentavam
problemas econômicos à época), países árabes (exportadores de petróleo) e
do Japão em acordar metas de redução nas emissões de gases causadores
do efeito estufa.
No
entanto, Candotti diz que desde então os problemas ambientais ficaram
mais complexos, "porque são mais discutidos e novas reivindicações
surgiram".
Além
disso, afirma que tensões militares e o aumento populacional tornaram
mais urgente sua solução. "De 1992 para cá, houve quatro ou cinco
guerras, os preços do petróleo subiram, e o mundo se adaptou a níveis
crescentes de consumo."
Diante
das dificuldades e da disputa entre países ricos e pobres, o físico
afirma que a responsabilidade do anfitrião da Rio+20 aumenta. Nesse
papel, segundo ele, o Brasil é beneficiado por suas condições naturais e
demográficas.
"O
Brasil está na liderança (das discussões sobre meio ambiente) não
porque tenha encontrado ideias novas ou por ter tido desempenho acima da
média, mas por estar em posição privilegiada quanto a laboratórios
naturais".
"É
no Brasil que há a Floresta Amazônica, inúmeros rios, aquíferos e áreas
férteis de grande extensão, sem que aqui haja uma superpopulação como
na China, Europa ou Índia."
Conquistas da Eco-92
físico José Goldemberg, ex-secretário do
Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia no governo federal, elogia a
atuação do Brasil na Eco-92 por conduzir as negociações sobre quem
financiaria as medidas previstas nas Convenções do Clima e da
Biodiversidade, o acordo aprovado na Eco-92.
Alguns
anos depois, diz Goldemberg, o Brasil voltou a ter papel decisivo na
inclusão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Protocolo de
Kyoto, aberto para assinaturas em 1997 e que prevê a redução nas
emissões globais dos gases causadores do efeito estufa.
O
MDL permite que países adeptos do protocolo adquiram créditos pela
redução em emissões de carbono ocorrida em países subdesenvolvidos.
No entanto, o físico diz que o Brasil abriu mão de liderar as negociações atuais.
"De
modo geral, o Brasil se associou com o G-77 (grupo com 77 países
emergentes) e a China e não tem sido entusiasta de ideias novas para
reorientar desenvolvimento para economia sustentável."
Goldemberg
afirma ainda que políticas recentes adotadas pelo governo, como a
construção da hidrelétrica de Belo Monte, indicam que o país não está
disposto a liderar discussões sobre a preservação ambiental.
Ele
menciona ainda a "euforia com o pré-sal" e os recentes estímulos
fiscais ao setor automobilístico, que, ao contrário dos concedidos pelos
Estados Unidos à indústria automotiva americana, não condicionam os
benefícios a melhorias em eficiência energética.
"Todas as medidas estão na contramão do que se esperaria."
Candotti,
da SBPC, critica a prioridade destinada pelo governo ao PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), que prevê investimentos bilionários em
hidrelétricas, portos, ferrovias e outras grandes obras.
"Isso obviamente não foi planejado com olhar atento ao potencial do patrimônio genético e ambiental das florestas."
Mesmo
assim, ele enaltece o papel que o Brasil tem exercido nos foros globais
ao defender o apoio às nações mais pobres, para que reduzam as
injustiças sociais e eliminem a fome.
"Só espero que o Brasil não caia na armadilha de dizer que alimentar a todos implica poluir ou desmatar mais."
Fonte: Gaia - Centro de Estudos
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